Faleceu na noite deste domingo, 02, às 23h30, na Congregação dos Orionitas, em Araguaína, Tocantins, o bispo da Diocese de Balsas, Maranhão, e ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Enemésio Ângelo Lazzaris, aos 72 anos. O religioso lutava contra um câncer no pâncreas desde janeiro de 2019 no Hospital Dom Orione, em Araguaína. Nos últimos meses ele esteve internado no mesmo hospital. Está prevista, para a tarde desta segunda-feira, 03, missa de corpo presente no Santuário Sagrado Coração de Jesus, na cidade tocantinense, onde Enemésio atuou como pároco por oito anos, na década de 1990. Após a celebração, seu corpo será transladado para a Catedral de Balsas.
Fonte: Assessoria de Comunicação da CPT e Diocese de Balsas (MA)
Imagens: Arquivo CPT Piauí
Filho de Mário Lazzaris e Maria Pattel Lazzaris, Dom Enemésio Ângelo Lazzaris nasceu em Siderópolis, no estado de Santa Catarina, no dia 19 de dezembro de 1948. Membro de uma grande família, ele é o segundo filho de 10, do casal. Ainda adolescente, aos 12 anos, ingressou na Congregação da Pequena Obra da Divina Providência. Estudou filosofia em Ipiranga, em São Paulo, e Teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Enemésio terminou o seu noviciado em 1965, licenciou-se em Teologia e fez os seus votos perpétuos em 27 de outubro de 1974, sendo ordenado no ano seguinte, em 26 de julho de 1975.
Enemésio foi Formador e Promotor Vocacional em Belo Horizonte de 1975 a 1981. Se especializou em espiritualidade no Teresianum, em Roma, Itália, entre os anos de 1981 e 1983. Assumiu a Direção do “Lar dos Meninos” e do Seminário “Dom Carlos Sterpi”, de Belo Horizonte, de 1983 a 1989. Logo depois, entre 1989 e 1997, foi Pároco da “Paróquia Sagrado Coração de Jesus”, em Araguaína, Diocese de Tocantinópolis.
Naquele ano, em 1997, Lazzaris foi nomeado Diretor da Comunidade do “Instituto de Artes e Ofícios Divina Providência” da cidade do Rio de Janeiro, onde ficou até 1998, quando então foi eleito Superior Provincial da Província Norte do Brasil, de 1998 a 2004. Nomeado Vigário Geral da Congregação Pequena Obra da Divina Providência, transferiu-se para Roma, onde permaneceu de 2004 a 2007.
Enemésio Ângelo Lazzaris foi nomeado bispo da Diocese de Balsas pelo Papa Bento XVI, em 12 de dezembro de 2007, quando ainda era Vigário Geral da Congregação Dom Orione. Em 29 de março de 2008, com a presença de diversos bispos do Maranhão e de outros estados, foi ordenado bispo, na Catedral do Sagrado Coração de Jesus, em Balsas, em uma celebração presidida por Dom José Belisário da Silva, arcebispo de São Luís (MA).
Pastoral da Terra
A partir do ano de 2008, Dom Enemésio passou a acompanhar a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no estado do Maranhão como bispo referencial, quando começou a contribuir com as lutas por terra, água e justiça social de centenas de comunidades do campo.
“Testemunhamos a sua luta junto aos povos da terra e das águas na busca e conquista dos seus direitos. Ele foi sempre um companheiro dos sem voz e sem vez, ameaçados neste Maranhão, sendo junto a eles e a elas resistência, ânimo e coragem. Fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da terra, ouvindo o clamor que vem dos campos e florestas, procurou seguir a prática de Jesus Cristo, buscando envolver toda a comunidade e a sociedade na luta pela terra e produção na construção do Bem viver” – Equipe da CPT no Maranhão.
Já em 2009, Dom Enemésio foi eleito vice-presidente da CPT, permanecendo na função até o ano de 2012, quando, em fevereiro, ele passou a responder como presidente interino da entidade, devido à morte de Dom Ladislau Biernaski. No mês seguinte, em março de 2012, durante a Assembleia Nacional da Comissão Pastoral da Terra, o bispo foi eleito presidente da pastoral, permanecendo por dois mandatos à frente da organização até o ano de 2018, quando o então vice, Dom André De Witte, o substituiu.
Como presidente da CPT, em março de 2017, Dom Enemésio esteve na Universidade de Dayton, em Ohio, nos Estados Unidos, para receber o Prêmio de Direitos Humanos Dom Oscar Romero oferecido à CPT por seu trabalho em defesa dos pobres e das vítimas de Trabalho Escravo. “Quero, antes de mais nada, prestar uma homenagem a São Romero da América, mártir salvadorenho, assassinado em 1980, à filha desta terra Ir. Dorothy Stang, que tombou em defesa dos povos da floresta Amazônica, em 2005, e aos 1.833 homens e mulheres assassinados no campo brasileiro, desde 1985. A Comissão Pastoral da Terra completou, em 2015, 40 anos de existência. Ela foi criada em 1975, durante um encontro de bispos, padres e agentes de pastoral da Amazônia em tempos de ditadura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais e posseiros expulsos de suas terras e peões submetidos à condição análoga à de escravo”, discursou, o bispo, ao receber a premiação.
Atuante nas causas sociais, Dom Enemésio também foi bispo referencial da Cáritas no Maranhão entre os anos de 2013 e 2018. Participava regularmente da vida institucional da organização, em níveis estadual e nacional, como: reuniões do Conselho Regional, assembleias e congressos, reuniões de planejamento e avaliação das ações. Ele também foi bispo referencial da Pastoral do Menor no Regional Nordeste V da CNBB entre os anos de 2008 e 2018, comprometido em promover e defender a vida das crianças e adolescentes.
Lançamento do Caderno de Conflitos no Campo em 2017. Dom Enemésio Lazzaris e a equipe da CPT Piauí em Teresina.
Luta contra o Trabalho Escravo
Entre os anos de 2012 e 2016, Dom Enemésio integrou o Grupo de Combate ao Trabalho Escravo. Já em 2016, na Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em Aparecida, São Paulo, a CNBB criou a Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), sendo ele nomeado presidente.
“Há muitos crimes cometidos para os quais não se dá importância e não se leva em consideração. É preciso que nós, como pastorais, CNBB, sociedade e governos nos organizemos melhor para que este crime não continue acontecendo de uma maneira invisível e espantosa”, manifestou, Dom Enemésio Lazzaris, em junho de 2016, durante reunião da CEPEETH, quando também destacou que a Comissão precisa atuar para a prevenção do tráfico de pessoas e para que as situações deixem de ser invisíveis.