O Piauí, infelizmente, ainda é considerado um estado exportador de mão-de obra-escrava. Apesar de suas riquezas naturais e grandes extensões de terras, a fome, o desemprego, o analfabetismo, fazem parte do cotidiano de diversas famílias e, nesse contexto, ocorre a exploração da mão-de-obra para o trabalho escravo, que atinge principalmente os lavradores na idade de 18 a 35 anos, sem nenhuma qualificação profissional, nas comunidades rurais.

O trabalho escravo é crime, transforma o ser humano em um objeto descartável e apresenta algumas características como aliciamento com promessas enganosas, dívidas crescentes, não recebimento de salários, condições desumanas de alojamento e alimentação, violência física, ameaças e pressão psicológica, jornadas exaustivas de trabalho e impedimento de sair.

Esquecidos pelo poder público, homens e mulheres do campo tornam-se presa fácil nas mãos dos que só visam o lucro e a destruição da vida.

CPT NA LUTA CONTRA O TRABALHO ESCRAVO

Em função de toda essa realidade de aliciamento, de exploração e escravização do/a trabalhador/a do campo, a Comissão Pastoral da Terra sempre teve presente em suas ações a luta contra o trabalho escravo, que se intensificaram com a CAMPANHA “DE OLHO ABERTO PARA NÃO VIRAR ESCRAVO”, desenvolvida em nível nacional há 25 anos, visando o combate e a prevenção ao trabalho escravo. No Piauí, a Campanha ganhou força com as primeiras denúncias de trabalhadores escravizados no Estado do Pará, com um intenso trabalho de sensibilização da sociedade, das entidades organizadas da sociedade civil, das instituições e, sobretudo, dos trabalhadores no conhecimento e garantia dos seus direitos.

O trabalho de prevenção se dá através do combate ao aliciamento, denunciando a saída de trabalhadores de forma irregular e as condições de trabalho degradante e escravo nos Estados receptores e exportadores, do incentivo à organização dos/das trabalhadores/as, bem como de seus familiares, por meio de um processo de formação política na luta pela garantia dos direitos, sendo eles/elas protagonistas de sua própria história no processo de ação e transformação da realidade local;  da exigência de políticas públicas voltadas para a geração de emprego e renda, reinserção social e fortalecimento da agricultura familiar; da mobilização e articulação da sociedade civil como agente multiplicador na rede do combate ao aliciamento e prevenção ao trabalho escravo e da sensibilização da opinião pública posicionando-se contra as mazelas causadoras da superexploração e do trabalho escravo.

A nível estadual, existe ainda a Campanha FIQUE ESPERTO! TRABALHO ESCRAVO AINDA EXISTE!”, promovida pela Comissão Pastoral da Terra, por meio das comissões de Barras, Currais, Porto e União, em parceria com o instituto Ubíqua e com apoio da Bruck Le pont, com o objetivo de denunciar e prevenir o trabalho escravo contemporâneo no Piauí.

 

DADOS IMPORTANTES

Entre 1995 e 2020, 55.991 mil pessoas foram libertadas no Brasil. O ano de 2021 encerrou com número recorde de pessoas resgatadas do trabalho escravo, cerca de 2000 pessoas, de acordo com a CPT Nacional, um nível nunca alcançado desde 2013. No Piauí, em 2021, foram registrados 10 casos e 67 trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão. Nos últimos anos, as atividades que se destacam na prática do trabalho escravo são o extrativismo da palha de carnaúba e extração de pedra e madeira.

Não podemos fechar os olhos para essa triste realidade. É papel do Estado e municípios coibir essa prática ilegal, e desenvolver políticas públicas que promovam condições de trabalho digno em cada canto do Piauí. Nós enquanto sociedade civil temos o dever de repudiar a exploração e cobrar do poder público as medidas necessárias para o fim dessa prática. O dia de hoje, criado em 2009 para homenagear três auditores fiscais do trabalho que foram assassinados nessa data durante apuração de denúncias de trabalho escravo em fazendas na região do município de Unaí (MG) no ano de 2004, nos lembra que é preciso unir forças para lutar contra essa realidade desumana.

Trabalho escravo é crime e fere a dignidade da pessoa humana. DENUNCIE!