Quase 20 anos depois, o crime conhecido internacionalmente como “Chacina em Unaí” permanece impune com os mandantes livres. Foi no dia 28 de janeiro de 2004 que os auditores Fiscais do Trabalho (AFTs) Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram vítimas de uma emboscada durante uma fiscalização de trabalho escravo em Unaí – Minas Gerais. A data ficou marcada como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.
Em memória das vitimas da chacina de Unaí e de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que continuam sendo vítimas dessa pratica em todo o pais a Comissão Pastoral da Terra segue atuando na prevenção, combatendo e denunciando os casos de trabalho escravo no Brasil e no estado do Piauí.
Leia também:
Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra faz 25 anos
Leia a Nota Completa:
“Até quando vamos falar de trabalho escravo nesse país? Não sabemos. O fato é que ele ainda existe e infelizmente está presente na vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. É uma realidade em vários municípios do Brasil, em diversas atividades de pecuária, desmatamento, produção de carvão para siderúrgicas, produção de cana de açúcar, grãos, de algodão, confecção, construção civil, etc.
Vivemos em um sistema que é, por natureza, desigual e que visa o lucro. Não importa que, para isso, as pessoas sejam transformadas em mercadoria, não importa humilhar, violentar, ferir a dignidade da pessoa humana. Para quem escraviza, o lucro vale mais que a vida. Vivemos em um país onde há em curso uma precarização das relações de trabalho, grandes índices de desempregos e muitas pessoas acabam se submetendo a péssimas condições de trabalho para sobreviver. Dessa forma, o trabalho escravo atinge, especialmente, os pobres e negros, da periferia ou da zona rural.
No Piauí, durante o ano de 2022, 180 trabalhadores foram resgatados nos municípios de Buriti dos Lopes, Campo Maior, Castelo do Piauí, Batalha, Anísio de Abreu, Flores do Piauí, Cristiano Castro, Patos, Currais, Canto do Buriti, Amarante, Nazaré do Piauí, Altos, Piracuruca, Monsenhor Gil, Isaías Coelho, Miguel Alves, Currais e Palmeira. Os trabalhadores resgatados estavam trabalhando em atividades como extração da palha de carnaúba, extração de pedra, catação de raiz. É o terceiro ano em que o Piauí apresenta um número alto de trabalhadores resgatados em regime análogo a escravidão. Em 2007, foram 195 trabalhadores resgatados. Em 2014, sete ano depois, foram 179. Em 2022, 180 trabalhadores foram resgatados em regime análogo à escravidão. Portanto, o ano de 2022, entra para a história do Piauí como um dos anos com maior número de trabalhadores escravizados.
Em todo o Brasil, em 2022, foram 2.575 pessoas resgatadas nessa situação. Trabalhadores e trabalhadoras são esquecidos pelo poder público, diante da falta de oportunidades e emprego, homens e mulheres do campo e da cidade tornam-se presa fácil nas mãos dos que só visam o lucro e a destruição da vida. A sociedade, alheia a essa problemática, não percebe que a cada dia os casos de trabalho escravo aumentam. Acredita-se que a escravidão é coisa do passado, porém o que ocorre é que a escravidão se modernizou e não possui as mesmas correntes, mas ainda existe e continua aprisionando e violentando, tirando a vida e violando direitos de trabalhadores e trabalhadoras.
O trabalho escravo contemporâneo apresenta características como o aliciamento com promessas enganosas, dívidas crescentes, não recebimento de salários, condições desumanas de alojamento e alimentação, violência física, ameaças e pressão psicológica, jornadas exaustivas de trabalho e impedimento de sair. O trabalho escravo transforma o ser humano em um objeto descartável, em uma mera mercadoria. Ressalta-se que essa prática é criminosa e é tipificada no Código Penal Brasileiro.
Em função de toda essa realidade de violação dos direitos humanos e trabalhistas, a Comissão Pastoral da Terra tem realizado um trabalho de prevenção que se dá através do combate ao aliciamento, denunciando a saída de trabalhadores de forma irregular e as condições de trabalho degradante e escravo nos Estados receptores e exportadores, do incentivo à organização dos/das trabalhadores/as, bem como de seus familiares, por meio de um processo de formação política na luta pela garantia dos direitos, sendo eles/elas protagonistas de sua própria história no processo de ação e transformação da realidade local; da exigência de políticas públicas voltadas para a geração de emprego e renda, reinserção social e fortalecimento da agricultura familiar; da mobilização e articulação da sociedade civil como agente multiplicador na rede do combate ao aliciamento e prevenção ao trabalho escravo e da sensibilização da opinião pública posicionando-se contra as mazelas causadoras da superexploração e do trabalho escravo. Trabalho escravo é crime. Denuncie. Você pode fazer a diferença, seja vigilante e observe se em sua cidade existem casos de trabalho escravo.”
FIQUE ESPERTO! TRABALHO ESCRAVO AINDA EXISTE!
Comissão Pastoral da Terra – Regional Piauí