Representantes do Banco Mundial estão em missão no sul do Piauí, entre os dias 06 e 08 de Junho, visitaram comunidades impactadas pela expansão do agronegócio na área de fronteira de monocultivos denominada Matopiba, a região fica no encontro dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A visita às comunidades foi resultado de uma ampla articulação e mobilização de organizações e movimentos populares, na qual solicitam a suspensão do processo de regularização fundiária promovido pelo Governo do Estado e executado pelo Instituto de Terras do Piauí (Interpi) através do projeto Piauí: Pilares de Crescimento e Inclusão Social e que é financiado pelo Banco Mundial.
Fábio Pitta, pesquisador e coordenador de projetos da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, explica que o projeto tem regularizado as terras dos grandes latifundiários em cima das chapadas e a não regularizar as terras dos pequenos agricultores que vivem em comunidades tradicionais e defende.
“Essas áreas de chapada, que foram tomadas pelos grandes empreendimentos agropecuários elas são por direito das comunidades, eram terras devolutas usadas de forma comum pelas comunidades por décadas e foram sendo griladas e ocupadas historicamente”, disse Pitta.
Esta é a segunda vez que representantes do Banco Mundial vistam as comunidades no Sul do Piauí. Na primeira vez, mesmo após ouvir os relatos sobre os impactos que o projeto tem causando, o Banco enviou uma carta as organizações afirmando que “que as comunidades nas áreas de projeto não são afetadas pela expropriação/expulsão”.
Não é o que relata o lavrador Juarez Celestino Souza, 60 anos, morador na comunidade de Melancias, situada em Gilbués, distante a 94 km do município. Ele conta que as famílias, além de sofrerem com as ameaças se serem expulsas de suas terras por grileiros, também tem seu modo de vida impactadas pelo uso de agrotóxicos utilizadas pelos grandes latifundiários das fazendas que cercam a comunidade.
“Melancias é uma comunidade situada à beira do rio Uruçuí Preto estamos a 30 km da nascente dele e esse rio está poluído. Na época chuvosa dias que a gente tem água nele e tem dias que a gente tem lama porque os produtores lá da serra do Cerrado não fazem nenhum amparo para que os agrotóxicos não desçam para o rio”, afirma o lavrador Souza.
Em reposta a primeira visita as organizações, movimentos populares e as comunidades Morro d´água, Melancias, Brejo do Miguel, Lagoa do Martins, Sete Lagoas, Baixão Fechado e Chupé, assinaram uma carta ao Banco Mundial e afirmaram que todas estão localizadas em áreas de grande interesse do agronegócio e o processo de regularização fundiária “fomenta a subida do preço da terra e a grilagem de terras se amplia exponencialmente”, logo a instituição financeira “não pode ignorar o contexto em que o projeto é implementado” – Leia o especial Matopiba: O capital acima da vida.
Foto: José Cícero da Silva