Reincidência do conflito no Território Melancias Município de Gilbués-PI.

 

 A Comissão Pastoral da Terra-PI e a Associação de Moradores da Comunidade Melancias torna público, repetidamente a situação de conflito no território melancias, cerrado piauiense.

No último dia, 04 de novembro de 2019, a Fazenda Alvorada expulsou as famílias da sua área coletiva de solta do gado e das roças. Com auxílio da polícia e jagunços da fazenda, chegaram à comunidade ribeirinha do território Melancias e colocaram uma parte do gado das famílias para o outro lado do rio. A ação foi realizada durante toda parte da tarde com a presença da polícia militar de Gilbués. Vale ressaltar que não foi apresentado nenhum documento oficial que justificasse a ação, sendo ela assim, arbitrária, autoritária, violenta.

Destaca-se ainda que a comunidade esta incluída do projeto de Regularização Fundiária do Governo do Estado do Piauí financiado pelo Banco Mundial, através do Projeto Piauí: Pilares do Crescimento e Inclusão Social.  Nesse processo o Instituto de Terras do Piauí – INTERPI em agosto de 2018 realizou o estudo antropológico e o levantamento do território, porém ainda não foi concluído.

            De acordo com Altamiran Ribeiro, coordenador da CPT PI, existem dois culpados pelos conflito na região do cerrados do PIAUI, um é o apetite voraz das fazendas (empresas) em alimentar seus lucros abusando do seu poder econômico se sobrepondo às comunidades. O outro culpado é o Estado com a sua morosidade com  uso dos recursos e ferramentas para regularizar as terras dos territórios, que são das comunidades tradicionais do cerrado.

A associação de Moradores e a Comissão Pastoral da Terra também expressam o seu repúdio à uma matéria publicada na coluna de um grande portal eletrônico do Piauí no dia 05 de Novembro de 2019, onde aponta as famílias como invasores de terras, quando na verdade esses já estão no território há aproximadamente 150 anos e ocupam de forma tradicional o seu território, sendo estes, os proprietários da terra.

Histórico do conflito no território

No dia 04 de Agosto de 2019, um dos Grileiros de Terra e que afirma ser dono da Fazenda Paraíba ameaçou o morador Valdim Alves, morador do território. Ordenou que a cerca da comunidade fosse retirada e ainda abriu um aceiro.

No dia 29 de Agosto de 2019, a Fazenda Alvorada enviou dos agrimensores no território para medir de pontos geográficos dentro da área da comunidade, a equipe identificou-se como sendo da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, mas não houve mais explicações à comunidade.

 Leia também:

NOTA PÚBLICA: Violência no Cerrado Piauiense

Conselho da ONU recebe denuncia de violações de Direitos às comunidades do Cerrado piauiense

Manifesto Audiovisual das Juventudes do Cerrado

 

Conhecendo a comunidade

O Território Melancias é composto por 6 comunidades,  Passagem da Nega, Sumidouro , Brejo das Éguas, Riacho dos Cavalos e Melancias I e II. Situado a  94 km da sede do Município de Gilbués no Sul do Piauí, Brasil, é constituído por 38  famílias que vivem as margens do Rio Uruçuí-preto . A  das famílias   vivem  da extração do buriti, mangaba,  pequi  e do cultivo da mandioca, do feijão, do arroz e milho. Além de  frutas como manga, acerola, limão, laranja, goiaba e  melancia. Também criam gados  no sistema de  solta em áreas coletivas, porcos, ovelhas, galinhas caipiras. 

            As Famílias do território são impactadas pela Fazenda Alvorada que está dentro da área da comunidade e tem privado as famílias do uso das verendas para criação do gado, inclusive cercaram uma das veredas existentes no território. Além da Alvorada, a Fazenda Passaginha tem desmatado e destruído parte da mata ciliar do Uruçuí Preto e da sua Nascente. Além disso, O uso do veneno nas lavouras do Cerrados tem alterado a coloração e a qualidade da água do Rio Uruçuí Preto, tanto que no início da temporada de chuvas o rio fica com uma coloração alaranjada, pois o veneno aplicado na lavoura é carreado para dentro dele. As famílias do Território Melancias lutam na defesa do rio Uruçuí Preto e do seu território para a manutenção do seu modo de vida, assegurando vida digna e em abundância para as presentes e futuras gerações.

Diante deste cenário, manifestamos nossa solidariedade e apoio a comunidade ameaçada e em luta na defesa de seus territórios. Exigimos em caráter de urgência a intervenção dos órgãos competentes para a garantia da integridade e a proteção das famílias, como também a resolução da problemática em questão. Além disso, repudiamos o descaso e exigimos o tratamento devido dos órgãos de segurança pública, garantindo os direitos das famílias envolvidas.

 

No dia 23 de Outubro foi lançado o documentário “Melancias ” resgatando a cultura, memória, luta , protagonismo e resistência das famílias.

Assista o documentário Melancias aqui.

 

Foto: Leticia Luppi