Neste domingo, 08 de março, a CPT Piauí dá destaque às Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu celebrando a vida e conquistas dessas mulheres que há tempos constroem uma história de fé e luta no estado do Piauí. O dia foi marcado pelo lançamento do livro “Memória, Resistência e Esperança- Narrativas de uma Trajetória” às 09h na EFA – Escola Família Agrícola da comunidade Conrrado, município de Miguel Alves-PI, a publicação é da Associação de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu em parceria com a Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas (CICAF), Comissão Pastoral da Terra- Piauí, e apoio de Missionszentrale Der Franziskaner.

Durante a manhã cerca de 100 pessoas de diversas comunidades da região abriu-se discutiram a cerca das violências sofridas pelas mulheres do município de Miguel Alves-PI e caminhos a percorrer para a prevenção desse crime, esse momento foi assessorado por Lucia Araújo da Frente Popular de Mulher Contra o Feminicídio. Também se fizeram presentes representantes do Fórum de Mulheres Piauienses e Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

Historicamente essas mulheres fazem dessa data um dia de resistência e de luta por seus direitos em debates, manifestos, caminhadas nas ruas da cidade, mas também de celebração pelas conquistas que juntas conseguiram alcançar em mais de 20 anos de organização.

Entenda um pouco

Um período marcado por expulsão, violência e luta pela terra deram inicio a essa jornada quando “(…) o coco só podia ser vendido para o patrão (dono da terra), lá onde nós morávamos muita gente foi expulsa do terreno dele porque ia vender pra outro lá fora, a pessoa tinha que procurar um rumo do dia pra noite…eu acho que essa forma que a gente vivia era tipo humilhação…” lembra Balbina Ramos (mais de 65 anos) do Assentamento Lajinha Apolinário. Apesar disso, outras mulheres conseguiram enfrentar o “patrão” e se libertar dessas amarras como a Lucia Sousa (59 anos) da comunidade Pedra Grande – “… comecei a vender coco pra fora. Ai quebrava muitos litros de coco. Foi indo, foi indo… a notícia se espalhou, ajudei outras mulheres a se libertar da mão do patrão e a não viver mais na opressão”.

Vencendo a opressão dos donos de terra, para se organizar, ainda tiveram que enfrentar outros vilões, um deles, o machismo. Quando sair de casa, encontrar outras mulheres, reuniões periódicas, desconfiança e medo eram o cenário de muitas mulheres no inicio da formação dos grupos. Jandira Ribeiro (42 anos) da comunidade Pedra Grande relembra como era a sua situação para ir às reuniões -“Eu começava me arrumar, ele ficava zangado… Eu vou! Quando eu voltava das reuniões meu coração alegre e satisfeito, mas quando ia chegando… meu coração se fechava só em pensar de chegar em casa…”. Outro vilão que as quebradeiras enfrentam é o desmatamento dos babaçuais uma ameaça ao trabalho delas, dona Maria Julia (54 anos) do Assentamento Retrato destaca essa dificuldade, no entanto força e resistência são suas guias. “O coco tá difícil, não tá fácil não pra nós, nós luta bastante pra poder conseguir uns coquim pra poder tirar a massa (…) Derrubou muita palmeira, nas queimadas, né? Derrubando muitos matos. Ta acabando, ta acabando! Nós precisamos continuar na luta pelo babaçu livre!” uma realidade atual.

Nesse caminho que seguem juntas e organizadas em Associação vivenciando a economia solidária sem perder de vista a espiritualidade, essas mulheres conseguiram alçar voos cada vez mais altos, registradas legalmente, com marca consolidada conseguiram vender seus produtos e continuam a se qualificar e ampliar seus conhecimentos.

Hoje as Quebradeiras de Coco babaçu de Miguel Alves no Piauí possuem duas casas de produção equipadas com maquinário moderno e trabalham diariamente na produção dos produtos derivados do babaçu como: o azeite, o óleo, massa do mesocarpo, biscoitos, bolos e outros de onde tiram o seu sustento e o de suas famílias. Na esperança de dias ainda melhores elas não param por ai, ainda há muito que sonhar segundo Alzira Pereira (31 anos) do Retrato – “Nosso sonho agora é um ponto comercial pra gente vender, a gente quer construir ao lado da casa de produção e outro na cidade onde a gente possa expor nossos produtos e vender mais!”, ainda há muito que esperançar.

… Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás,

esperançar é construir, é não desistir!

Esperançar é levar adiante,

esperançar é juntar-se com outros pra fazer de outro modo!