Em Jornada Nacional de Lutas, mulheres Sem Terra denunciam o projeto político da extrema direita, ultraliberal e fundamentalista. MST mobilizou mais de 10 mil pessoas em 14 estados do país com ações em dez órgãos federais. O encontro produziu um documento final, o Manifesto das Mulheres Sem Terra, onde se afirma essa retomada da luta de massas, a resistência ativa da classe trabalhadora e a construção da Reforma Agrária Popular. Confira abaixo o manifesto e vídeo produzido sobre o Encontro:
(foto: Andressa Zumpano / CPT)

MANIFESTO DAS MULHERES SEM TERRA
Com a força presente no março e sob a inspiração da histórica luta do Dia Internacional das Mulheres, nós trabalhadoras do MST reunidas de 05 a 09 de março, realizamos nosso 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, embaladas pelo lema – Mulheres em luta, semeando resistência!

Somos 3.500 mulheres vindas dos acampamentos e dos assentamentos de todos os estados e contamos com a participação de nossas queridas companheiras de movimentos populares e organizações políticas do Brasil e também mulheres internacionalistas, de 14 países da América Latina, América do Norte, Europa e África.

Levamos para a capital do país, nossa diversidade cultural, expressões artísticas, experiências de educação do campo, produção de alimentos saudáveis, formas de organização popular de base, formação política, trabalho com a juventude e principalmente a síntese da nossa trajetória na construção de novas relações de gênero.

Sabemos que o patriarcado e o racismo são pilares estruturantes da sociedade de classes. Nossa luta é para romper com todas as formas de dominação e opressão. O Feminismo Camponês e Popular orienta nossos passos firmes e decididos em busca da nossa libertação.

Denunciamos o projeto político da extrema direita, ultraliberal e fundamentalista que amplia o conservadorismo, a desigualdade social e a exploração do trabalho através de formas cada vez mais precarizadas e humanamente aviltantes. O governo Bolsonaro é um serviçal do capital e do Imperialismo norte americano. Ele entrega nossas riquezas, destrói a natureza, atenta contra a Soberania Nacional e Popular, retira direitos trabalhistas, previdenciários e comanda uma máquina de guerra e extermínio dos ricos contra os pobres, sobretudo as negras e os negros, a juventude, LGBTs e mulheres.

O sistema do capital vive uma crise profunda e por isso intensifica a intervenção política e econômica sobre os países dependentes como o Brasil. Mas as medidas adotadas em nada conseguem resolver os problemas reais do povo e, portanto esse projeto de dominação não durará para sempre. E é justamente sobre as mulheres que a exploração é ainda mais brutal: segundo o Dieese as mulheres ocupam 95% a mais de tempo que os homens, nas tarefas domésticas e nossos rendimentos são 22% menores, o que se agrava no caso das mulheres do campo e mulheres negras.

Denunciamos o aumento da violência contra as mulheres e os criminosos atos de feminicídio. A violência contra as mulheres é incitada diretamente pelo presidente da República, que é machista, misógino e odeia quando uma mulher avança. Além da violência doméstica, as mulheres do campo sofrem com a violência do latifúndio e do Estado, através das reintegrações de posse, destruição das nossas casas e roças, assédios, perseguição, tortura e assassinatos.

Denunciamos as empresas do agronegócio e da mineração que seguem sem freios na implantação de uma pauta máxima, ditada exclusivamente pelo aumento de suas taxas de lucro. São arquitetos da destruição ambiental, desmatadores da vida, saqueadores dos bens naturais e assassinos de vidas que se misturam em lama e sangue. São homens escravocratas que expropriam as terras já conquistadas por indígenas, quilombolas e sem terras. Levam o veneno diretamente para o prato das famílias brasileiras, contaminam as águas e lucram com a venda do remédio, para curar a doença criada por eles mesmos. Privam os povos do direito à alimentação e são os responsáveis diretos pela fome, pela miséria e pela catástrofe climática.

Repudiamos a entrega das terras públicas da União e das terras devolutas dos Estados para o capital. Exigimos que faça valer a Constituição Brasileira e que essas terras sejam destinadas para a Reforma Agrária. Seguiremos ocupando os latifúndios, pois somente assim retomaremos as terras usurpadas em 350 anos de escravidão do povo indígena e negro.

Repudiamos a privatização dos assentamentos, o fim das políticas públicas e programas sociais importantes como o PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) que já escolarizou mais de 192 mil pessoas do nível básico ao de pós-graduação e que está sendo destruído pelo atual governo. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi totalmente desestruturado e perdeu sua função de responsável pela reforma agrária, se transformando numa imobiliária de regularização fundiária a serviço dos latifundiários

Apesar de tudo que nos oprime e nos impede de ser livres, estamos despertas e seguimos em luta semeando resistência. Lutamos por direitos sociais e por transformações radicais na política e na economia. Nos somamos às lutas da classe trabalhadora iniciadas neste ano, com destaque para os petroleiros e as petroleiras.

Seguimos na nossa resistência ativa e na construção da Reforma Agrária Popular. Convocamos a sociedade brasileira para as lutas de março, no 8 – dia Internacional das mulheres, no dia 14 – Justiça por Marielle Franco, Anderson Gomes, pelo fim das milícias e no dia 18 em defesa da educação e contra a mercantilização e bestialização do conhecimento.

Nos comprometemos na construção de um março que pode marcar a virada política nas lutas de massas que a nossa classe trabalhadora tanto necessita. Vamos com força para cima deste projeto de morte que está no poder. Somos feitas de pedras e sonhos. Somos pequenas gotas que juntas, formam uma grande correnteza de lutas e também de conquistas, que arrancaremos na marra, como direito legítimo dos povos em movimento.

Reafirmamos toda nossa solidariedade aos povos do mundo em luta. Por uma Palestina livre! Pelo fim ao bloqueio do Império contra Cuba! E pela Soberania Popular da Venezuela!

Quando as mulheres trabalhadoras entram para a luta, é para decidir o presente e arrancar das entranhas do futuro, a alegria da realização dos seus sonhos. Não sonhamos pouco! Pisamos ligeiro e seguimos em marcha, determinadas pela construção de uma sociedade socialista e um mundo que não nos mate e aprenda a nos respeitar. Queremos e podemos tudo. Somos a revolução silenciosa que rompe o possível e o estabelecido. Somos rebeldia e gritamos: não calarão a nossa voz!

Nós que amamos a revolução, resistiremos! Mulheres em luta, semeando resistência!

Sem feminismo não há socialismo!